sexta-feira, 30 de abril de 2010

Camila...




Nossa pupila!
Me leva para cama e me diz com voz de menina que sou sua irmã querida.
Sai para passear de lenço na cuca e me explica que os olhares cruéis são apenas de pessoas desprovidas.
Alma generosa sempre compreendida.
O norte da casa e equilíbrio que motiva.
Doença amarga abençoada que ensina.
De carro novo sai em busca da lida.
Confessa que tomar banho careca é uma sensação impar.
Diz ao pai “obrigada por toda a vida”.
Agradece ao Senhor pela oportunidade concedida.
Espera à hora do casório e saída.
Promete que serei a madrinha das criançinhas.
Feliz, pois virei cunhada amiga.
Tímida!
Resignada pacientemente a força divina.
Num pranto calado às vezes se mostra quebradiça.
Mas logo se levanta e vai à busca da cura prometida.
Nossa Camila...
A esperança que a enfermidade é mais uma etapa a ser vencida.
E assim...
A tal doença temida se torna coadjuvante nessa história real de rimas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Retrato de Familia














Família é partilha. Tenho uma grande. É daquelas que se encontram no Natal e no aniversário do sobrinho fulano de tal. Na minha família tem de tudo. É seleta. Repleta! Uns chegaram a pouco, outros partiram a tanto. Família grande é assim, muitas histórias, vitórias e sorrisos. Mas tem também o lado amargo, que um dia foi passado e às vezes insiste em voltar. Mas a gente olha para frente e entende que futuro sempre vem nos presentear.
Na minha família tem tias amadas, com cara de mãe emprestada. Na minha família tem primo temporão, com cara de filho “que ainda não veio não”. Na minha família tem prima afilhada, com cara de irmã agitada. Na minha família tem pai brigão, mas no fundo no fundo é um chorão.
Minha família é discreta, mas numa festa, se liberta. Na minha família se faz churrasco e “junta pratos”. Adoramos uma conversa, que muitas vezes, vai até o amanhecer.
Quando as sombras da saudade vêm me abraçar, lembro da família que ao meu redor está. E sei que com ela posso contar. Nesse momento penso em Deus e de como ele deixa pistas para felicidade. Aí, fica fácil achar. A família é o nosso lugar e é lá que devemos estar. Sempre, sem contestar!
Mas essa família ainda terá histórias para contar e ate lá "...o que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia..."

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O velho e o Moço

Para aqueles que me conhecem sabem da minha paixão por Los Hermanos. É como se cantassem para mim! Delicie-se.

Deixo tudo assim
não me importo em ver
a idade em mim
ouço o que convém
eu gosto é do gasto

sei do incômodo
e ela tem razão
quando vem dizer
que eu preciso sim
de todo o cuidado

e se eu fosse o primeiro
a voltar pra mudar
o que eu fiz
quem então agora eu seria

ahh tanto faz
e o que não foi não é
eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?

deixo tudo assim
nao me acanho em ver
vaidade em mim
eu digo o que condiz
eu gosto é do estrago

sei do escândalo
e eles tem razão
quando vem dizer
que eu não sei medir
nem tempo e nem medo

e se eu for o primeiro
a prever e poder
desistir do que for dar errado

ahhh ora se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim
dispenso a previsão

ahhh se o que eu sou
é tambem o que eu escolhi ser
aceito a condição

vou levando assim
que o acaso é amigo
do meu coração
quando fala comigo
quando eu sei ouvir

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mãe.






Difícil falar. Tentarei escrever. Faltam-me palavras. Faz-me reviver.
Sinto falta das pequenas coisas. Do almoço de domingo e de sua passagem todas as noite pelas nossas camas. Sinto falta de compartilhar. Sinto falta do seu cheiro. Sinto falta do seu amor...
Em minha breve passagem por esse mundinho ilusório, meu coração salpica ao pensar o quanto sofreu. Um sofrimento da alma, uma doença da alma, que transcende a dor física.
Ela tinha adoecido por completo. O corpo não respondia mais as drogas. Estava resignada a partir. Foram realmente dias de muita luta e agonia. Deixou três corações sofridos, deixou uma casa onde era o seu refúgio e deixou como ensinamento o seu exemplo e o verdadeiro sentido da maternidade.
Nos gerou, amamentou, cuidou, ensinou,amou. Fez de sua vida a nossa! Fez de sua jornada nosso porto seguro, alicerce.
Pressentia que estava doente. Emagrecimento súbito, uma tosse inacabável... Sofreu sozinha. Não revelou... Mamãe era assim, não falava sobre suas angústias, guardava tudo em algum lugar... Camila a puxou.
Faleceu na presença de Tia Esther, sua grande irmã, parceira e confidente. Não sei se nesse exato momento sofreu, também nunca quis saber. No domingo véspera do acontecido, ficamos o dia todo no hospital, a base de morfina ela dizia coisas desconexas “Minhas filhas minha cama está no teto”. Tinha um olhar que reconhecia a todos que ia visitá-la, mas, às vezes se mostrava vago, distante, como se estivesse em comunhão com Deus. Fomos para casa já sabendo da sua ida, dormimos. Ela se foi pela manhã. Sucumbiu.
Tenho muito orgulho de ser sua filha. Agradeço por tudo, pela minha formação, pelos meus valores e pelas conquistas. Porém, o que mais agradeço é pela minha irmã. Sem ela a caminhada teria sido muito mais árdua e dolorosa. Sem ela não teria resistido.
Em meus sonhos a vejo sempre bem e feliz, como antes, num tempo de paz. Acredito que encontrou uma nova moradia e se refez. E de lá nos protege.Quando eu era pequena ela dizia “ Filha você tem um anjo , não esqueça a oração dele” E eu dizia “ Eu sei que tenho, só não sei onde ele está." Pois bem, agora eu sei."MÃE anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiaste a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina.Amém"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A balzaquiana


Essa sou eu. Meu nome é Fernanda, mas poderia ter sido Carolina. Um brinde aos trinta! Principalmente pela plenitude que esta idade me contempla. Me fez incorporar uma vestimenta que antes eu não conhecia. Dona das minhas idéias. Consigo ser critica e ao mesmo tempo experimentar a ingenuidade da adolescência. Continuo sendo a inata sonhadora típica do signo de peixes e menina chorona de quando pequena. Emotiva e sensível, até mesmo nos mais simplórios romances. Boa de garfo e apaixonada pelo prazer da gula que vai desde a comidinha da vovó até os pratos mais requintados experimentados por aí. Meu paladar apurado se rende a um picolé de tapioca, milho cozido e canjica.
Envolvo-me com a boa música, principalmente aquela ensinada pelo meu pai. Predileção pelo frio apesar de venerar a praia. Amante da minha casa e das lembranças que nela estão. Fonoaudióloga por vocação. Viagens são planos para o futuro. Filhos também. Ansiosa e impaciente em tudo que faço. Dirigir é sinônimo de liberdade. Roupas minha paixão. Malhação! Esmaltes os mais variados. O cabelo antes uma preocupação. Ser loira vai muito além do platinado, é um estado de espírito. Maquiagem uma coleção. Cachorro a gato! Uma cor? Verde. Um sabor? Salgado. TPM! Muito mais que um sintoma físico, uma condição.
Busco o equilíbrio, mas às vezes parece ficar distante quando encontro comigo mesma. Geniosa. Carinhosa. Carrego na alma as dores da perda. Quando deprimida meu estômago dá sinais de fragilidade e absorve todo o sofrimento. Irrita! Tento relaxar. Respiro. Consigo! Nesse processo atual a cada novo dia a esperança e a certeza da cura povoam meus pensamentos no primeiro despertar.
Fé resgatada eleva meu pensar em oração, assim, agradeço pela oportunidade de recomeçar. Recomeçar... A meu ver é olhar para mim e dizer “Essa sou eu” Muito prazer!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Velha Infância



Falar de infância é falar de Jardim Camburi. Num tempo ainda que as ruas eram de barro e a lanchonete da moda chamava “ padaria esquinão”. Lá era o nosso point. Iamos em bando. Eu com minha gangue e ela com a dela! Não nos misturávamos, é claro! Camila era pirralha e eu? Me achava a tal, de nariz em pé , num rebolado só, era a pré-aborrecente . Ela a “pirralha” pagava rodadas e rodadas de picolé e guloseimas para os seus comparsas. O dono da padaria o “Coca” olhava desconfiado, até que um dia a dedurou. E dona Vera muito nascimento que era, suspendeu a conta e o tal “fiado” dançou.
A rua era Antônio Guilherme do Nascimento. O prédio Vila Rica. Foi uma infância abarrotada de coisas boas... A vida era simples... Os desejos também. Os finais de semana sempre em Maruípe, os verões em Guarapari e os carnavais no camping do siri. De longe, ela me observava dançar nas festas americanas, me copiava na performance de paquita e começava a se interessar pelos meus modelitos. Eu, metida que era não dava bola pra ela!
No bairro de Lourdes, foi a mesma coisa! Continuávamos a estudar na mesma escola. E por vezes, sentia Camila buscando a irmã. Mas essa irmã não estava. Estava na matinê da zoom, no cinema enturmada, zuando com sua cambada, muitas vezes até de madrugada.
E o tempo foi passando... A diferença de idade não mais pesava! E Camila tinha se cansado de ser deixada. Agora, queria ir para farra com sua rapaziada. Porém, a missão era ficar em casa, já que mamãe necessitava!Com a partida, tudo mudara! Como eu precisava! Queria ser ninada numa canção embalada até adormecer... Mas, metida que agora era não queria mais saber da irmã mais velha!
E tudo por um tempo se perdeu...
Eu buscava e nada! As palavras eram melindradas e a cama à noite me consolava! Brigávamos... Rompíamos... De volta o bem se estabelecia... Passava... Brigávamos... E a dor continuava!
Como mudar essa parada?
A doença veio encarregada de reverter! Deu uma porrada nas irmãs afastadas e elas passaram a se entender...Hoje a paz reina na nossa casa e a promessa é fazer sempre isso acontecer. A vida é muito engraçada , o sofrimento nos faz crescer.


terça-feira, 13 de abril de 2010

raspou...

Quando pequena os cabelos eram ondulados, na verdade sem uma forma bem definida. Na adolescência começaram a cachear, resolveu pintar! Comprou uma dessas tintas de farmácia e a cor ficou uma mistura de laranja com cobre (irmã, sinto muito mas foi isso mesmo). Os anos foram se passando e é claro que esse "shake" foi se perdendo e dando lugar a um castanho acinzentado e todo mundo dizia " Nossa! que cor de cabelo lindo! Mas, de novo resolveu pintar! Porém, dessa vez foi esperta, fez luzes numa "especialista" em cabelos loiros. Meu Deus! Que cabelo! Liso na raiz e cacheado da metade até as pontas. Parecia ouro! Reluzia!
De três em três meses ia ela toda faceira na tal "especialista" retocar a raiz e voltava sempre mais loira (ela adorava). Quando ia a uma festa ninguém gostava do cabelão escovado parecendo uma crina de cavalo, apenas eu (será por que?).
Bom...eu é claro por total influência começei também a incorporar a loirice,mas, não ia na tal "especialista", ia (eu confesso) numas cabelereiras com os nomes todos parecidos com o final "inha", ou seja, boa coisa não ficava.
Num certo momento ela cansou da tal " especialista" e virou nômade. Peregrinava de salão em salão, até que um dia "erraram a mão" e o ouro virou chumbo.
Pasmem! Camila chegou em casa com o cabelo chumbo! E detalhe, ia para Marataízes conhecer a sogra. É lógico que foi um drama, mas, como boa namorada que é, foi assim mesmo.
Quando voltou de viagem resolveu procurar um outro "especialista" para consertar o estrago. E qual foi a solução? Virar morena! Sim! Camila agora tinha os cabelos chocolates. E continuavam lindos...
Mas ela chorou a noite inteira por conta da morenice. E dessa vez teria que esperar seis meses para voltar a ser "blond" novamente, já que os cabelos precisavam descansar das tais agressões sofridas. É óbvio que antes mesmo do prazo vencer Camilinha voltará a ter a madeixas iluminadas.
Com a doença anunciada a quimioterapia veio para complementar o tratamento. E é sabido que os cabelos sofrem diretamente os efeitos da quimio. Durante o processo da doença presenciei o choro dela duas vezes. A primeira foi com a notícia do câncer e a segunda quando soube que realmente precisaria da quimio e consequentemente ficaria careca.
Passaram-se vinte dias e os cabelos começaram a despencar...assim, resolveu RASPAR. Chorou? Nem uma lágrima! Eu chorei? Todas...Todas as possíveis. Levantamos juntas? Sempre. Cada uma ao seu modo, cada uma a sua maneira...sempre foi assim e assim para sempre será.
Nunca revelei, mas, em todos esses episódios e em todas essas nuances minha irmã continuava linda e ainda continua. Essa história de sansão não cabe aqui...a força tem como sinônimo SUPERAÇÃO! E Camila tem a força!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

comer, rezar, amar



É atualmente o meu livro de cabeceira! Fala da busca de uma mulher por todas as coisas da vida na Itália, na Índia e na Indonésia. Em um trecho do livro ela conversa com seu guia espiritual e ele diz sobre uma figura humana andrógina, de pé, com as mãos unidas em prece. Mas essa figura tinha quatro pernas e nao tinha cabeça. Onde deveria estar a cabeça, havia apenas um tufo selvagem de samambaias e flores. E em cima do coração estava desenhado um pequeno rosto sorridente. Esse guia diz para Liz ( escritora e personagem principal do livro)que é exatamente nessa figura que ela tem que se transformar, ou seja, precisa ter os pés plantados no chão com muita firmeza, para que assim, seja possível permanecer no mundo, e então vem a parte mais interessante do livro , ele afirma que não se deve olhar o mundo através da cabeça e sim do coração. Com isso poderemos sim conhecer a Deus. Decidir que desejo isso para mim!
Independente de qualquer religião, eu desejo isso! Ah então tendo uma proximidade com ele me isenta de qualquer sofrimento? Claro que não! Mas ter fé e acreditar que é possível haver superação nos momentos de dificuldade são sentimetos que almejo conseguir.
O pontapé inicial por essa busca foi a doença da Camila. É necessária uma prática quase que diária. É preciso disciplina! Estar em prece, rezar ou orar seja qual for o sinônimo para agradecer ou pedir algo a Deus se faz com o coração.
E ela faz isso por muito tempo! Me questionei por diversos momentos por que minha irmã ia duas vezes a igreja num mesmo domingo? O que ela tanto fazia lá? Era realmente importante isso? Ela estava nessa busca...e ainda continua...E ela foi pelo amor...e eu pela dor...

domingo, 11 de abril de 2010

Vão se os cabelos...

... fica o amor fraternal, o respeito e a admiração por ela! Que irmã forte e guerreira! Um exemplo a ser seguido, nela posso encontrar tudo aquilo de melhor...serenidade, paciência e fé! Fé que resgato adormecida em algum lugar que deixei, quando me preocupava com outras coisas sem importância, quando achava que felicidade se resumia em valores pequeninos, em pessoas vazias. Estar com ela é aprender todo dia uma coisa nova e ter a certeza que estou mais perto de Deus e da minha mãe querida. Estamos chegando na metada da caminhada, caminhada árdua sim, mas, com REDESCOBERTAS grandiosas.
Obrigada irmã...Eu te amo!

Inicio...


Em junho de 2003 a confirmação da doença, mamãe estava com linfoma não Hodgkin! A batalha iria começar...foram apenas 5 meses e ela faleceu em novembro do mesmo ano. Foram momentos difíceis, cenas inesquecíveis,inúmeras internações, a doença a consumiu....e a nossa família também. Meu pai lutou até o final com muita dignidade, foi forte, um grande companheiro, um pai exemplar...
Eu na epóca com 23 anos e Miloquinha com 19, estavamos envolvidas com a doença mas fomos poupadas até o último instante, até o ultimo final de semana , sobre o fim... ele estava próximo.
Mamãe se foi muito debilitada, isso deixou marcas em todos nós. Os dias seguintes foram duros e sentiamos muito sua falta, a família foi muito importante, papai era o mais abatido, Miloquinha a grande fortaleza da casa e eu âncorada no trabalho e no namoro. Hugo foi fundamental...
O tempo foi passando e a dor diminuia com ele, o envolvimento com o dia-a-dia ajudava a esquecer o buraco deixado em casa. A saudade era inevitável(e ainda é),porém, conseguimos tocar nossas vidas. Nos anos seguintes muita coisa boa aconteceu, emprego novo, nascimento de Dudu, formatura de Camila, carro zero (para mim era...rs)enfim...
Em 2010 tudo seguia do mesmo jeitinho e na minha cabeçinha achei que desse mal não iria mais sofrer ,mas, em 22 de fevereiro minha querida irmã recebe o diagnótico de câncer de mama.
O sentimento foi o mesmo, o medo da perda, o medo da dor,pensar em presenciar os mesmo efeitos da quimio, a falta do cabelo,as náuses, o medo da exposição e ai o tal questionamento: comigo de novo???
Sim de novo! De novo porque ainda falta melhorar num monte de coisa,o aprendizado sempre é mais eficaz na dor e junto com os tais questionamentos vem também as reflexões...o distancionamento de Deus, o distancionamento da família e dos valores ensinados pela minha mãe amada!
NADA É EM VÃO!!! EXISTE UM PROPÓSITO PARA TUDO...
Camila fez a quadrantectomia e a primeira quimio, os efeitos têm sido brandos, porém, a queda do cabelo veio que veio. Hoje cortamos o cabelinho acima dos ombros e essa semana ainda passamos a máquina, quinta feira acontece a próxima quimio, duas de quatro!Os médicos estão muito otimistas e nós também, tudo dessa vez será diferente, ou seja, com final feliz!
Minha história com essa doença tem como personagens pessoas que amo e que de alguma forma não estão aqui apenas a passeio, estão aqui para ensinar! E eu como boa aluna, estou aqui para aprender...